Por Cleonice Andrade
O sofrimento é inevitável, realmente não temos como fugir
dele. Porém, percebo ao conversar com as pessoas o quanto sua dor é duplicada
em função dos erros cognitivos presentes na forma como interpretam as situações
do cotidiano.
Quando algo acontece
ficamos pensando a respeito disso, e muitas vezes ruminamos sem parar.
Pensamentos invadem nossa mente de tal forma que quanto mais tentamos nos livra
deles, mais intensos e frequentes eles se tornam. Quanto mais nos concentramos
nos conteúdos desses pensamentos mais acreditamos que de fato eles acontecerão.
Assim, nossas emoções de medo, angústia, desespero, desesperança, tristeza e
raiva se intensificam. Outras vezes não nos damos conta do que dizemos a nos
mesmos nos momentos que coisas perturbadoras acontecem. Temos o habito de nos
concentrar e valorizar as situações e não os pensamentos.
Como afirma meu mestre Aaron Beck: “não é a situação que
determina a emoção, mas sim a forma como interpretamos essa situação”.
Se prestarmos atenção no que estamos pensando quando há
mudança no humor, podemos constatar isso com muita facilidade. Normalmente
acreditamos na primeira interpretação que vem a mente. Pois bem, os pensamentos
mentem pra gente, muitas vezes eles não estão de acordo com a realidade. Temos
interpretações errôneas e distorcidas da realidade e cometemos erros cognitivos
como: catastrofização, pessimizar, leitura mental, tudo ou nada, filtro mental,
generalização, adivinhar o futuro, entre muitos outros. Essas falhas cognitivas nos levam a ter
comportamentos impulsivos, inapropriados e inadequados que nos impedem de
atingir nossas tão desejadas metas. Um exemplo: “Ele nunca me compreende”. “Está sempre desligado de tudo”. Quando na
verdade: “Uma vez ou outra ou em algumas situações
ele não me compreende”. “Às vezes ele está desligado”. Nossas interpretações
dos eventos são tão automáticas e rápidas que não conseguimos perceber a
distorção. Somente quando paramos, anotamos e questionamos é que conseguimos
descobrir onde estão os erros.
Esse é o trabalho da terapia cognitiva, ajudar as pessoas a
identificar esses pensamentos, questioná-los e modifica-los. Quando deixamos
nossos pensamentos de acordo com a realidade há uma neutralização do nosso
humor. Ao analisarmos nossas interpretações podemos encontrar crenças por nós
desconhecidos que também são modificadas. Algumas dessas crenças também estão distorcidas
e é delas que surgem os pensamentos que os terapeutas cognitivos chamam de automáticos.
Muitas vezes não temos consciência deles já que se misturam com outros
pensamentos ao longo do dia.
Precisamos tomar muito cuidado também com nossas
expectativas. Elas são responsáveis por muitas frustrações no nosso dia-a-dia.
Tanto as nossas metas quanto as nossas expectativas precisam estar de acordo
com a realidade. Quanto mais irrealista for uma pessoa, maior será o
sofrimento, decepção e frustração.
Não temos como deixar de ter emoções fortes e negativas, mas
temos como reduzi-los, ameniza-los ou neutraliza-lo. A visão que nos temos de
nós mesmos, do mundo e do futuro pode estar bastante distorcida. Todos deveriam
aprender a arte de não acreditar na primeira interpretação que vem a mente e buscar
explicações alternativas para os acontecimentos. Vejo a mudança das pessoas
quando elas aprendem a fazer isso. É impressionante como nosso pensamento tem
poder. Mais impressionante ainda é saber que quem controla esse poder somos
nós. Nossos pensamentos não estão no controle, nós estamos. Você muda sua forma
de pensar e muda seu mundo. Temos que
parar de tentar controlar o incontrolável. O mundo não vai mudar os
acontecimentos só porque determinadas coisas nos causam dor. O mundo é o que é.
As pessoas são como são. Portanto, ver as coisas com clareza mantém as pessoas
mais equilibradas e estruturadas. Mudar um hábito e pensar não é fácil, mas é possível
e quando aprendemos a fazer isso estaremos preparados para resolver os problemas
de forma mais racional.
Joinville, 20 de
Outubro de 2013
Cleonice F. Andrade
Psicóloga
Clinica Especialista: Terapia Cognitiva ComportamentalCRP: 12/04023
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