domingo, 20 de outubro de 2013

O PODER DO PENSAMENTO NEGATIVO

Por Cleonice Andrade

O sofrimento é inevitável, realmente não temos como fugir dele. Porém, percebo ao conversar com as pessoas o quanto sua dor é duplicada em função dos erros cognitivos presentes na forma como interpretam as situações do cotidiano.

 Quando algo acontece ficamos pensando a respeito disso, e muitas vezes ruminamos sem parar. Pensamentos invadem nossa mente de tal forma que quanto mais tentamos nos livra deles, mais intensos e frequentes eles se tornam. Quanto mais nos concentramos nos conteúdos desses pensamentos mais acreditamos que de fato eles acontecerão. Assim, nossas emoções de medo, angústia, desespero, desesperança, tristeza e raiva se intensificam. Outras vezes não nos damos conta do que dizemos a nos mesmos nos momentos que coisas perturbadoras acontecem. Temos o habito de nos concentrar e valorizar as situações e não os pensamentos.

Como afirma meu mestre Aaron Beck: “não é a situação que determina a emoção, mas sim a forma como interpretamos essa situação”.

Se prestarmos atenção no que estamos pensando quando há mudança no humor, podemos constatar isso com muita facilidade. Normalmente acreditamos na primeira interpretação que vem a mente. Pois bem, os pensamentos mentem pra gente, muitas vezes eles não estão de acordo com a realidade. Temos interpretações errôneas e distorcidas da realidade e cometemos erros cognitivos como: catastrofização, pessimizar, leitura mental, tudo ou nada, filtro mental, generalização, adivinhar o futuro, entre muitos outros.  Essas falhas cognitivas nos levam a ter comportamentos impulsivos, inapropriados e inadequados que nos impedem de atingir nossas tão desejadas metas. Um exemplo: “Ele nunca me compreende”. “Está sempre desligado de tudo”. Quando na verdade: “Uma vez ou outra ou em algumas situações ele não me compreende”. “Às vezes ele está desligado”. Nossas interpretações dos eventos são tão automáticas e rápidas que não conseguimos perceber a distorção. Somente quando paramos, anotamos e questionamos é que conseguimos descobrir onde estão os erros.

Esse é o trabalho da terapia cognitiva, ajudar as pessoas a identificar esses pensamentos, questioná-los e modifica-los. Quando deixamos nossos pensamentos de acordo com a realidade há uma neutralização do nosso humor. Ao analisarmos nossas interpretações podemos encontrar crenças por nós desconhecidos que também são modificadas. Algumas dessas crenças também estão distorcidas e é delas que surgem os pensamentos que os terapeutas cognitivos chamam de automáticos. Muitas vezes não temos consciência deles já que se misturam com outros pensamentos ao longo do dia.

Precisamos tomar muito cuidado também com nossas expectativas. Elas são responsáveis por muitas frustrações no nosso dia-a-dia. Tanto as nossas metas quanto as nossas expectativas precisam estar de acordo com a realidade. Quanto mais irrealista for uma pessoa, maior será o sofrimento, decepção e frustração.

Não temos como deixar de ter emoções fortes e negativas, mas temos como reduzi-los, ameniza-los ou neutraliza-lo. A visão que nos temos de nós mesmos, do mundo e do futuro pode estar bastante distorcida. Todos deveriam aprender a arte de não acreditar na primeira interpretação que vem a mente e buscar explicações alternativas para os acontecimentos. Vejo a mudança das pessoas quando elas aprendem a fazer isso. É impressionante como nosso pensamento tem poder. Mais impressionante ainda é saber que quem controla esse poder somos nós. Nossos pensamentos não estão no controle, nós estamos. Você muda sua forma de pensar e muda seu  mundo. Temos que parar de tentar controlar o incontrolável. O mundo não vai mudar os acontecimentos só porque determinadas coisas nos causam dor. O mundo é o que é. As pessoas são como são. Portanto, ver as coisas com clareza mantém as pessoas mais equilibradas e estruturadas. Mudar um hábito e pensar não é fácil, mas é possível e quando aprendemos a fazer isso estaremos preparados para resolver os problemas de forma mais racional.


Joinville, 20 de Outubro de 2013

Cleonice F. Andrade
Psicóloga  Clinica Especialista: Terapia Cognitiva Comportamental
CRP: 12/04023