segunda-feira, 2 de julho de 2012

Transtorno de Déficit de Atenção também afeta adultos

Ao contrário do que muitos pensam, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, ou TDAH, ainda é um transtorno pouco conhecido e subdiagnosticado, principalmente quando se trata do portador adulto. Esse fato é lastimável, uma vez que estudos científicos mostram que o TDAH persiste com os sintomas da infância até a vida adulta em 3 a 4% da população mundial. No Brasil, cerca de 1.800.000 brasileiros adultos sofrem por ter o transtorno e não saber. 

O TDAH é uma condição grave que se caracteriza por um padrão crônico e persistente de sintomas de desatenção,hiperatividadehiperatividade e/ou impulsividade, podendo afetar seriamente a qualidade de vida do indivíduo em todos os setores, seja afetivo, social, laborativo, acadêmico ou profissional. A maioria dos adultos sente-se limitada, não conseguindo desenvolver todo o seu potencial, o que leva a baixa auto-estima e sentimentos de minusvalia, insegurança, impotência, incompetência e fracasso precoce. Outras condições como depressão e problemas com álcool e drogas e transtornos de conduta costumam ocorrer em mais da metade dos adultos com TDAH.

O comprometimento das funções executivas faz com que a vida do adulto com TDAH fique fadada a constantes insucessos. A parte cognitiva fica prejudicada e a vida não flui, fica estagnada, muito aquém do esperado. O rendimento e o desempenho pessoal podem cair em várias áreas. Questões como falta de habilidade social, problemas com resolução e enfrentamento de problemas, dificuldades com gerenciamento do tempo e com a capacidade de se organizar e de se planejar podem fazer com que o portador de TDAH fique excluído e desassistido dentro de seu próprio meio, muitos vivendo à margem, desmoralizados e desacreditados pelos familiares, amigos e ou colegas de trabalho. O portador de TDAH cresce sendo rotulado, apelidado e criticado, e por isso vai solidificando uma auto-imagem negativa, achando que ele é assim mesmo. 

Mesmo aqueles que são diagnosticados e medicados adequadamente, podem não saber como gerenciar as suas limitações. A grande maioria dos portadores adultos não consegue encontrar seus próprios sistemas e mecanismos de enfrentamento para combater os sintomas do TDAH no dia-a-dia.


Cérebro de portadores de TDAH é menos desenvolvido

O desenvolvimento emocional de pessoas com TDAH é 30% mais lento

Algumas regiões do cérebro dos portadores de TDAH estão menos desenvolvidas e mais imaturas do que no cérebro de pessoas sem o transtorno. Hoje, já é sabido que o desenvolvimento emocional de pessoas com TDAH é 30% mais lento que o de pessoas não portadoras. 

Pesquisas com genética molecular indicam que o TDAH está associado a disfunções de neurotransmissores, principalmente do sistema dopaminérgico e noradrenérgico (SANDBERG, 2002). Os estudos genéticos são direcionados para a identificação de genes que regulam os sistemas dopaminérgicos, noradrenérgico e de outros neurotransmissores (CASTELLANOS, et al., 2002).Não há um gene específico que explique as disfunções dos NT, mas a interação de vários genes está envolvida na função de NT diferentes (herança poligênica) (VOELLER, 2004), sendo mais estudados aqueles referentes ao transportador da dopamina (WALDMAN et al., 1998; COMINGS et al., 2000, 2000b; COMINGS et al.,2005). Portanto, é consenso que nenhuma alteração em um só sistema de neurotransmissores seja responsável por uma síndrome tão heterogênea quanto o TDAH. 

Os exames de neuroimagem tendem a mostrar que o cérebro de crianças não portadoras de TDAH não funciona de forma idêntica ao da criança com TDAH, que têm um desenvolvimento cerebral mais imaturo, e que não existe nenhuma evidência até o momento, que garanta que os exames de neuroimagem possam diagnosticar a hiperatividade. (ROHDE ET AL, 1999). Essa também é a posição da Associação Americana de Psiquiatria da Infância e da Adolescência e do Comitê para Assuntos Científicos da Associação Médica Norte-Americana. Os exames de neuroimagem são úteis na pesquisa das funções cerebrais de déficit de atenção e hiperatividade, mas não fornecem dados definitivos. A maioria dos estudos sugere que o TDAH está associado a alterações do córtex pré-frontal e de suas projeções a estruturas subcorticais. Pesquisas recentes de neuroimagem têm avaliado em detalhes o circuito fronto-estriatal, sobretudo na região do córtex pré-frontal, caudado e globo pallido (HENDREN,2000). Outros, mostram que também há alteração em córtex parietal posterior direito. Portanto, poderíamos chamar o TDAH de um transtorno fronto-subcortical (SCHMITT, 2000). 

As principais alterações neuropsicológicas encontradas no TDAH são as de prejuízos em testes de atenção, de aquisição e de função executiva. O TDAH envolve também um déficit do comportamento inibitório e das funções executivas a ele relacionadas (BARKLEY,1997). Estudos indicam um envolvimento das catecolaminas, sugerindo que um baixo turnover de dopamina e/ou noradrenalina possa estar relacionado com a fisiopatologia do TDAH.

Escrito por:
Evelyn Vinocur
Neuropsiquiatra e psicoterapeuta

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