segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

ADOTEI UMA CRIANÇA...E AGORA?


A literatura brasileira está cheia de publicações importantes, pesquisas e estudos sobre diversos assuntos. Mas infelizmente dificilmente se encontra algo para auxiliar aquelas pessoas que resolvem adotar um filho. A adoção é um tema complexo que deveria receber mais atenção por parte dos profissionais e pesquisadores.

• A adoção é um ato de amor, de coragem e deve ser um exemplo seguido por muitas pessoas. Crianças adotadas são filhos do coração e é um gesto maravilhoso. São várias as crianças necessitando do amor de uma família na nossa sociedade, e são várias as famílias tendo muito amor reservado para essas crianças.

• No entanto, percebemos que essas famílias muitas vezes se encontram cercadas de dúvidas a respeito de como proceder na educação de um filho adotivo. Será que devemos contar a verdade? E se devemos contar, qual é o melhor momento? E se contarmos será que a criança ficará traumatizada? Será que ela vai deixar de amar a gente? Será que ela vai querer conhecer os pais verdadeiros? Perguntas como essas entre inúmeras outras, devem trazer grandes preocupações e noites de insônia para esses pais, além de gerar ansiedade.

• Mas a adoção, ao contrário do que muitas pessoas pensam, dificilmente trará problemas futuros para a criança ou para os pais se esses educarem seus filhos com flexibilidade. São os pais adotivos que estão criando e vendo a criança crescer que vão, através de seu comportamento e principalmente através da forma de falar e do conteúdo que utilizam nos momentos de comunicação e imposição de limites, modelar as maneiras como a criança vai ver a si mesmo, o mundo e futuro. Os pais devem ter consciência do impacto que suas palavras causam na formação da personalidade de seus filhos. As palavras que os pais utilizam para educar seus filhos tem um grande poder na formação do estilo explicativo que a criança vai se basear para interpretar o mundo.

• E é obvio que por mais naturalidade que a família tente passar para criança, vai chegar o momento em que ela vai perguntar, assim como todas as outras crianças, de onde veio. E esse é o melhor momento para uma explicação, porque a criança não quer saber se foi adotada. Ela quer saber de onde veio. Portanto sim, acreditamos que a criança deve saber desde o início a verdade, pois dificilmente um segredo pode ser mantido por toda uma vida. E como as pessoas a sua volta sabem de sua história e não podemos colocar um esparadrapo na boca de todos, um ou outro poderá acabar dando com a língua nos dentes. As crianças normalmente costumam fazer perguntas simples e se satisfazem com respostas simples. E na medida que sua capacidade de compreensão for aumentando elas voltam a questionar suas dúvidas. Cobrir os pais de "porquês" faz parte do desenvolvimento comum de todas as crianças.

• É importante salientar que os filhos adotivos devem receber a mesma educação que os filhos naturais. Devem receber limites da mesma forma que os outros. Os pais portanto, não devem aceitar provocações ou chantagens feitas pelos filhos adotivos, pois estes podem se utilizar dessas ferramentas quando frustrados, para fazer ameaças aos pais e conseguirem o que querem. Principalmente se eles descobrem que este é o ponto fraco dos seus pais. Pais adotivos podem sim, contrariar seus filhos quando estes precisam de limites. Crianças sem limites são mal educadas. E limite também é sinal de amor. Pais equilibrados emocionalmente educam filhos também equilibrados.

• As pessoas deveriam se apoiar mais nos profissionais da saúde mental para auxiliá-los no caso de dúvidas. Ninguém é perfeito e crianças não vem com manuais de instruções. Procurar ajuda de profissionais especializados não deveria ser motivo de vergonha ou preconceito, mas sim motivo de coragem em assumir que é um ser humano que muitas vezes se sente perdido em certas situações. Essa deveria ser a nossa realidade e não o que infelizmente observamos. Embora tenha aumentado bastante a preocupação dos adultos em relação aos problemas emocionais das crianças, ainda nos deparamos com grande dificuldade em conscientizá-los de que a criança ou o adolescente assim como o adulto também pode apresentar depressão, ansiedade, desesperança e até risco de suicídio.

• Os pais deveriam ficar atentos a certos comportamentos dos filhos que eles consideram inadequados e procurar um profissional para uma avaliação, independente que seja adotado ou não. A terapia cognitiva tem oferecido um excelente trabalho de prevenção da depressão e ansiedade direcionada tanto para os pais (futuros pais), quanto para os professores ou estudantes da área de psicologia. O objetivo desses profissionais é conscientizar as pessoas dos problemas emocionais mais comuns na infância e na adolescência, além de orientar os adultos ou responsáveis de como estabelecer limites a seus filhos e ainda prepará-los para uma qualidade de vida melhor, mantendo o equilíbrio emocional dessas crianças. Pais adotivos ou não, sempre terão dúvidas em algum período do desenvolvimento do seu filho. Eles devem estar cientes de que não estão sozinhos e que existem excelentes profissionais que estudaram exatamente para auxilia-los nesses momentos.




CLEONICE DE FÁTIMA DE ANDRADE 
CRP: 12/04023


Cleonice de Fátima de Andrade é Psicóloga Clinica Especialista -
 Terapia Cognitiva Comportamental

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